São João para mim é sinônimo de interior. Adoro viajar, ir para lugares como Arcoverde, Caruaru, Serra Negra ou qualquer cidade onde sei que vou encontrar fogueira, fogos, palhoção enfeitado com bandeirinhas e balões, barraquinhas de comida típica e trio pé de serra. Em Recife isso é cada vez mais difícil. O Sítio da Trindade talvez seja o que mais se aproxima desse clima, mas é uma festa grande e já não é tão legal como antes, quando tinha parquinho com direito à MONGA e tudo mais (não estou considerando as festinhas de bairro, claro).
Esse ano não viajei. Gostamos da programação do Recife e resolvemos ficar por aqui mesmo. Mas, no sábado, o arrependimento bateu, pois o que eu queria era aquele climão de interior e não só ver shows legais. Cadê a quadrilha, cadê os vestidos bufantes de matuta? No Sítio não dava nem pra chegar perto do galpão das apresentações, de tão lotado. No Arsenal, no Recife Antigo, o palhoção não dava conta de tanta gente querendo um arrastapé.
Eis que tive, na noite de São João, a surpresa mais agradável e feliz. Fui conhecer o Arraial da Palha, na cidade histórica de Olinda, do qual um amigo tinha me falado. O clima dali ajuda um bocado, né?! Aquela coisa de gente nas portas de casa, conversando com os amigos, já cria uma atmosfera diferente da relação que a gente costuma encontrar na cidade grande. E é justamente por isso, por ser organizado por esse tipo de gente que gosta de uma festa, de uma conversa, que o São João foi tão bom.
A Rua da Palha em festa |
Decoração |
A Rua da Palha é paralela à Ladeira da Sé. A gente foi subindo e seguindo as pessoas que pareciam estar indo para o mesmo lugar. E lá chegamos! Logo que vi a festa, já adorei. Era bem o que eu procurava, um arraial autêntico. Quadrilhas, crianças soltando fogos, barraquinhas com churrasquinho, pamonha, milho, canjica e, claro, o forrozim para animar o povo.
Lá pelas tantas conheci Paulo Almeida, aliás, Seu Paulinho, um dos organizadores do arraial. Gente que só precisa de um dedinho de prosa para contar a vida, todo orgulhoso. Foi com o peito cheio de entusiasmo que ele me disse que, "há nove anos, quando teve o primeiro, era só vizinho e família. Mas todo ano vem mais gente. Você viu o jornal de hoje? Tem uma página todinha falando disso aqui".
Eu e Seu Paulinho, meu novo amigo |
E tinha muita gente mesmo! Crianças e adultos, de Olinda, Recife, São Paulo e até do exterior. O palhoção ficou pequeno para quem quis dançar ao som de Paulo Pecado, que lançava seu CD. Mas aí o povo dava um jeito de se apertar e dançar agarradinho. Quem ficou impressionada com a quantidade de gente também foi Dona Catarina, esposa de Seu Paulinho, "índia maranhense" (como ele faz questão de dizer), que estava comprando seu queijo assado quando a conheci. Mas nem foi por intermédio do meu mais novo amigo. Conheci porque fui elogiar a unha dela, que estava toda personalizada para a ocasião. Aí já viu: assim como o marido, ela começou a conversar e só parou quando eu já sabia bastante da sua vida.
Palhoção lotado! |
As unhas de Dona Catarina |
A festa é todinha feita pela familia Almeida e alguns amigos. "Prefeitura num ajuda em nada, minha filha. A gente fez um 'bingozinho', no dia 15, para conseguir um dinheirinho. Aí cada um vem, traz um prêmio e a gente sorteia. É uma festa danada! Um vem e dá uma cerveja, outro vem e dá outra coisa. Esse ano eu dei uma torradeira". E eu ali atenta a cada palavra de Seu Paulinho, com um sorriso colorindo o rosto.
Saí do Arraial da Palha umas 3h, ainda com a festa bombando. Aliás, "só acaba lá pras cinco da manhã", como ele me disse. Fui embora satisfeita com minha noite de São João, com os pés cansados do arrastapé, o bucho cheio de espetinho e com o telefone de um novo amigo anotado na agenda.
Vai lá?
Arraial da Palha
Noite de São João, dia 23 de junho
A partir das 19h
Rua da Palha, Olinda
4 Pitacos:
Fico feliz que você tenha gostado, e em nome da Família ALMEIDA a convidamos para o próximo ano!!!
Um abraço,
Ismael Almeida.
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