"Elvis é meu diazepam". Essa frase foi repetida por duas vezes no pouco tempo que estive com Marluce Cabral, mais conhecida no bairro de Casa Amarela como Dona Elvis. O apelido não é por menos. A casa de Dona Marluce é praticamente um museu particular do Rei do Rock. A coleção de artigos com imagens e referências a Elvis Presley é gigante para aquela casinha do antigo Beco do Cutuvelo.
Embora seja tido como diazepam para esta professora de história de seus 60 e poucos anos, Elvis não parece bem um calmante. A cada pôster, livros e imagens mostrados, o coração de Dona Elvis parece disparar. O orgulho e admiração pelo ídolo impressionam. Até o netinho, xodó da família, perde um pouco o prestígio diante do Rei. Ela mostra uma foto ampliada do menino de três anos e solta:
"Lindo né?! Só não é mais bonito que Elvis!"
E eu que achei que um dia já havia sido fã de alguém. Se bem que as amigas explicam:
"Ela não é fã, é louca".
O arquivo "elvis presliano" conta com 114 CDs, 118 LPs, outros mais de cem DVDs, além dos primeiros pôsteres do astro, toalhas, carrinhos, bolsas, bicho de pelúcia, bonecos, cadeira e até um display de Elvis enfeitando a casa. "E Isso não é nem a metade", repetia ela, orgulhosa.
Como fã que se preze, loucuras já foram feitas por Marluce, para conseguir objetos temáticos de desejo. "Eu ia pro cinema às 1h da manhã pra pegar cartazes escondido. Outra vez eu estava na Avenida Guararapes e pedi ao cobrador um pôster que veio no jornal. Ele disse que não ia me dar, então eu rasguei e saí".
Mas isso não é nada se comparado à saga pela toalha com a imagem do rei. "Era de um vizinho e ele não queria me dar. Aí eu ia pagar para alguém pegar pra mim, mas ele acabou me vendendo", conta ela, com jeito de quem buscava algo por direito.
Desde a década de 50, quando viu Elvis Presley pela primeira vez, Marluce tem o astro em sua rotina diária. "
Escuto ele o dia inteiro e à noite assisto aos DVDs".
"E não enjoa não?", pergunto.
"Como é que a gente pode enjoar do grande amor da nossa vida?", responde ela na lata, como quem reponde a uma pergunta óbvia.
Mesmo depois de ter acabado a entrevista, foi difícil sair da casa de Dona Marluce. Vi por mais um tempo raridades, fotos da viagem dela a Memphis, onde há o museu de Elvis Presley, revistas antigas, réplicas de objetos do rei e inúmeros outros artigos daquela coleção particular.
Por fim, um abraço demorado nessa senhora simpática, risonha e apaixonante, que se despediu vestindo a camisa do ídolo e descrevendo em um bordão a sua paixão. "Elvis é um oceano. Os outros cantores são apenas gotas d'água".
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Definitivamente, Elvis não morreu. Pelo menos não na casa de Dona Marluce Cabral. |